Conversas obtidas pela Polícia Federal indicam que o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, buscou contas de outras pessoas em suposto esquema fraudulento de apostas em corridas de cavalos.
A hipótese foi levantada no inquérito para investigar fraudes em competição esportiva com o objetivo de obter lucro em apostas, e que levou ao indiciamento do jogador, na última segunda-feira (14).
Questionada, a assessoria de Bruno Henrique informou que não vai se manifestar. A Folha não conseguiu contato com os familiares dele, também indiciados.
A PF anexou mensagens trocadas entre Bruno Henrique e o seu irmão, Wander Nunes Pinto Junior, de 7 de outubro de 2023, em que o atleta questiona se ele conseguiria transferir Pix em valor alto de sua conta.
O irmão responde ao jogador que poderia e pergunta qual o valor. Bruno Henrique afirma “10 conto”. As mensagens seguem até que o jogador informa: “Vc não pode ser” e “Temos nomes igual”.
Na sequência, Wander pergunta: “Vai da ruim?”, “O que era?” e Bruno responde: “Vai”, “Negócio de aposta aqui”.
Interessado no suposto “esquema” de aposta informado por Bruno, Wander questiona: “Uai da essa ideia aí que vou apostar aqui tô precisando de dinheiro kkkkkk” e Bruno retruca: “Esse aqui pesado não dá pra vc não”.
Wander responde: “Se eu ganhar 1 mil reais tá bom se for coisa certa”. Bruno informa que para entrar no esquema da aposta teria de ter 10 k, ou seja, R$ 10 mil, toda semana, conforme trecho: “Tem que ter 10 k todo final de semana”.
O irmão segue informando a Bruno que este poderia enviar o dinheiro para a conta de um terceiro e este enviar para ele, porém o jogador informa que já estaria vendo isso e que com Wander não daria. Este então responde: “Entendi”, “Carai viu”, “Meu olho até brilhou”.
Em seguida, retomando a conversa sobre a aposta proposta por Bruno Henrique, Wander questiona: “Deu certo conseguiu aí” e Bruno responde: “Deu”, “Lajinha”. A mensagem de Bruno indica que teria usado a pessoa de nome Lajinha para o esquema de aposta.
Na continuidade do diálogo, Wander segue: “Boa kkkkkk”, “Só comemorar agora”, “Tá apostando vitória ou cartão algo assim”, e Bruno responde: “Não é nada disso não”, “Parada de cavalo”.
De acordo com a PF, essas trocas de mensagem indicam o possível envolvimento de Bruno Henrique com suposto esquema fraudulento de apostas envolvendo “cavalo”, possivelmente corrida de cavalo.
Ainda segundo o órgão, a tese de que a conversa trata de uma suposta aposta fraudulenta realizada por Bruno Henrique se dá em virtude, principalmente, pelo cuidado de Bruno em não envolver o irmão no esquema por conta de terem o mesmo sobrenome.
Para a polícia, ainda no trecho em que Wander afirma “Só comemorar agora”, ele daria a entender que seria uma aposta já com o resultado positivo garantido.
Na sequência do diálogo, chamou a atenção da PF a mensagem enviada por Wander questionando Bruno se este não poderia “tomar um cartão hoje”, conforme trecho: “Da pra tomar um cartão hoje não” e Bruno responde: “Da não”, “Tenho 1 já”.
A polícia encontrou, em pesquisa a fontes abertas que, na data da conversa, de fato ocorreu uma partida entre Flamengo e Corinthians, na Neo Química Arena, em São Paulo. Porém, nessa partida, o atleta teria recebido um cartão amarelo.
“Esse trecho do diálogo demonstra o interesse de Wander Junior em receber uma informação privilegiada de Bruno Henrique a respeito do recebimento de cartão em uma partida disputada pelo atleta do Flamengo”, afirma o órgão.
Além do jogador do Flamengo, o irmão Wander e outras oito pessoas foram indiciadas. No grupo está a mulher do irmão, Ludymilla Araujo Lima, e uma prima do atleta, chamada Poliana Ester Nunes Cardoso. Os três teriam feito apostas relacionadas ao cartão, em jogo contra o Santos pelo Campeonato Brasileiro de 2023.
Em nota, o Flamengo afirmou que não foi comunicado oficialmente. “O clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito”, diz o texto.