Um dos passeios obrigatórios para quem chegou ao topo dos 2.810 metros do monte Roraima é bater ponto no marco da tríplice fronteira, que marca o encontro de Brasil, Venezuela e Guiana. Esse local é também o limite do Parque Nacional Monte Roraima —mas, até há poucos dias, poucos haviam ouvido falar da existência dessa unidade de conservação. A omissão começou a ser eliminada com o acréscimo ao marco de uma placa que informa ser ali área sob os cuidados do ICMBio (Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade). E a Gruta do Quati, espaço que abriga os acampamentos dos visitantes, também recebeu sinalização informando que ali é Brasil.
A iniciativa de colocar as placas no platô do Roraima partiu de Dennis Hyde e Letícia Alves, o casal que percorreu os 75 parques nacionais do Brasil. “Quando subimos ao Roraima, no marco, sentimos falta de informação sobre o parque nacional”, conta Dennis. “Conversamos com o ICMBio, que aceitou que fizéssemos uma campanha de arrecadação junto com a agência Roraima Adventures, de Magno Souza, que reverteria parte da renda gerada por clientes que indicássemos para a confecção das placas”.
A campanha deu certo, Dennis e Letícia mandaram fazer as placas e, em fevereiro, equipes do ICMBio e da Roraima Adventures instalaram a sinalização.
O acesso ao platô do Roraima só pode ser feito via Venezuela, a partir da comunidade indígena de Paraitepuy, no Parque Nacional Canaima, onde se inicia o trekking até o cume. A área brasileira, segundo o ICMBio, corresponde a cerca de 5% do platô. Mas, embora a “proa” do monte, sua imagem mais icônica, fique dentro da área brasileira, não há qualquer iniciativa para criar uma rota turística de acesso nacional.
“Uma característica peculiar do parque é ser sobreposto à Terra Indígena Raposa Serra do Sol, na etnorregião Igarikó, sendo sua gestão feita em conjunto com essa etnia”, conta Havana Viana, do Parna Monte Roraima. “O acesso pelo lado brasileiro só poderia ser feito por escaladas dos paredões rochosos”, acrescenta. Mas ela ressalva que, embora “os ingarikó utilizem suas trilhas para manterem contato com outras etnias, de parte do ICMBio nunca houve uma expedição para apurar uma trilha alternativa partindo da TI até a montanha, pois a articulação teria que envolver muitas instituições brasileiras e venezuelanas, em região sensível de fronteira”.
A área total do Parna Monte Roraima é de 116 mil hectares e, até a instalação das placas no platô do monte, só havia uma placa de sinalização, perto do marco de fronteira BV3, nos limites de Brasil e Venezuela.
Dentro do parque, além do Roraima, fica um dos picos que mais atiçam a imaginação de trekkers de todo o país: o monte Caburaí, ponto mais setentrional do país, próximo da fronteira da Guiana, e cujo acesso é restrito a expedições de pesquisas e monitoramento, como explica Havana, por ser sobreposto ao TI Ingarikó. A abertura da área a uma visitação mais ampla, diz ela, depende da finalização do Plano de Visitação do Povo Ingarikó. “Acreditamos que expedições regulares, com a presença de operadores de turismo, possa gerar uma parceria junto aos indígenas para proteção dessas áreas, já que no último concurso no ICMBio Roraima não foi contemplado com vagas e nosso efetivo é escasso”, acrescenta.
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