A última semana foi marcada por quatro eventos que dominaram a discussão nas redes sociais e grupos de mensageria. Na terça-feira (18), o governo apresentou a proposta ao Congresso Nacional de isenção do Imposto de Renda para aqueles que ganham até R$ 5.000. No mesmo dia, Eduardo Bolsonaro anunciou que não iria retornar ao Brasil e que tiraria uma licença de seu mandato.
O anúncio de Eduardo Bolsonaro tomou conta das redes sociais. O movimento de apoio a Eduardo foi orquestrado pela direita para colocá-lo como perseguido político cuja decisão estaria atrelada a propósitos heroicos, tal como o enfrentamento às injustiças que estariam sendo cometidas por Alexandre de Moraes e pelo STF.
No vídeo em que anunciou sua decisão, Eduardo chamou Moraes de psicopata. O termo passou a ser utilizado nos grupos de mensageria ligados à direita para se referir ao ministro. Segundo os dados da Palver, o número de menções a “psicopata” cresceu nove vezes nos grupos públicos de WhatsApp após a fala de Eduardo.
O tema ganhou ainda mais engajamento e repercussão dado o posicionamento da própria esquerda. Após o vídeo de Eduardo, as mensagens rapidamente começaram a circular nos grupos públicos de WhatsApp com vídeos, imagens e textos o classificando como “fujão” e “covarde”.
Enquanto isso, o tema da isenção do Imposto de Renda ficou restrito a mensagens com tom mais institucional e com disparos identificados pelos algoritmos da Palver como sendo automatizados.
O caso de Eduardo Bolsonaro chegou ao pico na quarta-feira (19), dia no qual as menções ao parlamentar alcançaram 309 a cada 100 mil mensagens trocadas nos grupos públicos de WhatsApp analisados pela Palver. A isenção do IR teve seu pico no mesmo dia, mas com apenas 49 menções a cada 100 mil.
As entrevistas concedidas pelo ministro Fernando Haddad ajudaram a manter o tópico vivo no debate público e na quinta-feira (20). Enquanto as menções ao caso de Eduardo caíram para 195 a cada 100 mil mensagens, o tema da isenção se manteve relativamente num patamar alto com 39 menções, sempre considerando 100 mil mensagens trocadas. Já as menções ao ministro Fernando Haddad foram de 6 no dia 17 de março para 30 no dia 20.
Na sexta-feira (21), dois eventos tiraram novamente o foco da proposta apresentada pelo governo. Deu-se início no STF o julgamento da deputada federal Carla Zambelli (PL) no caso em que a parlamentar, no contexto das eleições de 2022, protagonizou uma perseguição com uso de arma de fogo. A votação no STF, até a tarde deste domingo (23), estava em 4 a 0 pela condenação de Zambelli, e o julgamento deve continuar até a próxima sexta (28).
Além do caso de Zambelli, a Primeira Turma do STF também iniciou o julgamento de Débora Rodrigues dos Santos, acusada de crimes como tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e de golpe de Estado. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, votou pela condenação da ré a 14 anos de prisão —Flávio Dino o acompanhou no voto.
Os votos pela condenação de Zambelli foram amplamente noticiados nos grupos de esquerda, com o pico de menções ocorrendo na própria sexta-feira (21), com 63 a cada 100 mil mensagens na amostra de WhatsApp. No caso de Débora, a direita escolheu usar o caso para pautar o debate alegando abuso do Judiciário. Com 73 menções na sexta, o tópico atingiu 159 no sábado e manteve esse patamar.
Mensagens automatizadas e orgânicas foram enviadas de forma orquestrada argumentando que Débora, sempre mencionando que ela é mãe de duas crianças pequenas, foi presa por causa de um batom, dado que utilizou o objeto para escrever “perdeu, mané” na estátua “A Justiça” localizada na praça dos Três Poderes.
Apesar da estratégia de comunicação de Haddad e da relevância da isenção do IR, a direita conseguiu ser mais efetiva em pautar as redes sociais e dominar o debate público ao longo da última semana.
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