Após ser criticado pelo presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, pela falta de medidas mais duras contra o racismo no futebol, o chefe da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), Alejandro Domínguez, rebateu dizendo que o brasileiro se posicionou contra o aumento nas multas aplicadas aos clubes em casos de discriminação.
“Com relação à proposta reiterada pela CBF quanto a modificação do Estatuto e do Código Disciplinar, vale respeitosamente lembrar que foi a própria CBF quem, na ocasião, manifestou oposição ao aumento dos valores de sanções estabelecidos”, diz Domínguez em ofício encaminhado à Ednaldo nesta segunda-feira (24).
O código disciplinar da entidade estabelece que o clube cujo torcedor for pego cometendo atos discriminatórios será multado em US$ 100 mil (R$ 576,8 mil). Em caso de reincidência, o valor sobe para US$ 400 mil (R$ 2,3 milhões).
Procurada, a CBF não retornou até a publicação da matéria.
Domínguez disse ainda no documento que as “sanções disciplinares impostas pela Conmebol em matéria de racismo estão alinhadas com os mais elevados padrões internacionais, aplicados nas ligas e confederações mais importantes do mundo”.
Reeleito nesta segunda-feira para um novo mandato à frente da CBF, o cartola brasileiro tem como uma das principais bandeiras o combate à discriminação no esporte.
Ednaldo havia criticado na semana passada as punições consideradas excessivamente brandas aplicadas pela Conmebol ao Cerro Porteño, após torcedores do clube paraguaio fazerem gestos imitando macaco a jogadores do Palmeiras durante partida da Libertadores Sub-20.
A Conmebol aplicou multa de US$ 50 mil (R$ 287 mil) ao Cerro e determinou portões fechados em jogos da equipe na Libertadores Sub-20.
“A CBF discorda veementemente da atuação da Conmebol nos casos de racismos e muito menos que a entidade esteja em conformidade com as medidas mais rigorosas implementadas nas mais importantes ligas, confederações e Fifa”, diz trecho do ofício assinado por Ednaldo no dia 20.
De acordo com o documento, a pena aplicada pela entidade ao clube paraguaio foi “uma sanção inócua, ineficaz e insuficiente diante da gravidade do evento, dos danos irreparáveis causados aos atletas e a reincidência do clube paraguaio.”
Paraguaio, o presidente da Conmebol discursou em português durante o sorteio da fase de grupos da Libertadores condenando o racismo. Na ocasião, contudo, disse que uma edição da Copa Libertadores sem clubes do Brasil seria como “o Tarzan sem a Chita”. Domínguez se desculpou pelas declarações.
A assinatura do presidente da CBF chegou a aparecer em uma carta contra o racismo feita em conjunto pela Conmebol e as outras nove federações da América do Sul, com um texto de apoio às medidas da entidade contra a discriminação. Após a divulgação da carta, no entanto, a CBF voltou atrás e disse discordar do teor da publicação e também da forma de condução dos recorrentes casos.
A CBF esclareceu que a inclusão da assinatura de Ednaldo foi feita por um membro do gabinete do dirigente, que teria permitido que ele assinasse porque continha um convite para uma reunião.
“Fomos pioneiros na liderança global do combate ao racismo, implementando medidas como a parceria com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, a reforma do RGC (Regulamento Geral de Competições) com sanções esportivas e a campanha #ComRacismoNãoTemJogo, vencedora do prêmio Fifa The Best”, afirmou Ednaldo após ter a reeleição confirmada nesta segunda-feira.