George Foreman, campeão de boxe peso-pesado que retornou ao esporte para recuperar seu título na improvável idade de 45 anos e transformou sua fama e personalidade amigável em um negócio multimilionário de grill, morreu na noite de sexta-feira (21) em um hospital em Houston, no Texas. Ele tinha 76 anos.
Sua família anunciou sua morte em sua conta no Instagram. Roy Foreman, irmão de George, disse que a causa da morte não era conhecida.
Quando Foreman voltou ao ringue após dez anos afastado, havia ceticismo de que um lutador de sua idade pudesse vencer qualquer lutador mais jovem, muito menos voltar ao topo do jogo. Mas em 1994 ele derrotou o invicto Michael Moorer para recuperar o título mundial, chocando o mundo do boxe.
A carreira de Foreman abrangeu gerações: ele lutou contra Chuck Wepner nos anos 1960, Dwight Muhammad Qawi nos anos 80 e Evander Holyfield nos anos 90.
Com Joe Frazier e Muhammad Ali, Foreman encarnou uma era dourada nos anos 1970, quando o boxe ainda era uma força cultural na América. Os três grandes campeões encantaram os fãs com uma luta clássica após outra. Foreman era o último membro vivo do trio.
E sua popularidade o ajudou a ganhar milhões vendendo grelhas após sua aposentadoria.
George Edward Foreman nasceu em 10 de janeiro de 1949, em Marshall, Texas, filho de Nancy Ree (Nelson) Foreman e J.D. Foreman, um trabalhador da construção ferroviária. Quando adulto, ele descobriu que seu pai biológico era um homem chamado Leroy Moorehead.
Foreman foi franco sobre ser um valentão e um pequeno criminoso em sua juventude. Após abandonar a escola, ele se juntou ao Job Corps aos 16 anos. Aos 17, ele tentou o boxe.
O sucesso veio rapidamente nas categorias amadoras; apenas um ano e meio depois, ele era campeão olímpico dos pesos-pesados, derrotando Ionas Chepulis da União Soviética por nocaute no segundo round na Cidade do México em 1968.
Após a luta, Foreman, que era negro, acenou com uma pequena bandeira americana no ringue, dias após os atletas de atletismo Tommie Smith e John Carlos levantarem punhos cerrados durante o hino nacional para protestar contra o tratamento do país aos negros.
“Eu estava apenas feliz por ser americano”, disse Foreman depois. “Algumas pessoas tentaram fazer algo disso, me chamando de Uncle Tom, mas eu não sou. Eu apenas acredito que as pessoas deveriam viver juntas em paz.”
Tornando-se profissional, ele começou uma agenda intensa de lutas, boxeando até uma dúzia de vezes por ano. Ele estava 37-0 quando teve sua primeira chance de um título mundial dos pesos-pesados contra Frazier, em Kingston, Jamaica, em 1973.
Embora fosse um azarão, Foreman dominou a luta, derrubando Frazier seis vezes antes que a luta fosse interrompida no meio do segundo round. Uma dessas quedas levou o locutor de televisão Howard Cosell a proferir uma das chamadas mais famosas do boxe: “Frazier cai! Frazier cai!”
Foreman defendeu o título duas vezes antes da luta com Ali no Zaire, em 1974, que se tornaria conhecida como a “Rumble in the Jungle”. Desta vez, Foreman era o favorito, mas Ali recuperou o título, infligindo a Foreman sua primeira derrota na carreira.
Ali usou sua estratégia rope-a-dope, descansando na corda superior e permitindo que Foreman o socasse, mas também se cansasse. Ali terminou a luta com um nocaute de combinação esquerda-direita no oitavo round.
Foreman teve mais cinco vitórias, incluindo outra sobre Frazier, mas após perder para Jimmy Young em 1977, ele decidiu pendurar as luvas aos 28 anos, citando suas crenças religiosas e os desejos de sua mãe.
Ele se voltou para a vocação religiosa em seus anos de aposentadoria, como ministro cristão não denominacional em Houston e fundando um centro juvenil.
Mas o ringue o atraiu de volta. “Quero ser campeão novamente”, disse ele em 1987. “Tenho um plano de três anos. Quero começar do zero. Treinar mais do que qualquer homem no mundo. Lutar uma vez por mês.”
Ele admitiu que o dinheiro também era um fator. “Você conhece aquela história sobre como você tem quatro bolsos nas calças, e é melhor guardar o que está em um bolso para poder viver?”, ele disse. “Eu guardei um bolso. Tenho dinheiro para bife e batatas. Mas os outros três bolsos eu simplesmente gastei.”
De fato, Foreman lutou frequentemente, até nove vezes em um ano. Ele acumulou 24 vitórias consecutivas, embora a maioria fosse contra boxeadores de menor habilidade. Isso o preparou para uma chance de título aos 42 anos contra o campeão, Holyfield, em 1991. Foreman perdeu a decisão, mas apresentou uma performance digna.
O Times descreveu Foreman como “em forma e corajoso”. Mas a reação geral foi que sua performance foi pouco mais que um esforço corajoso. Certamente, parecia ser o fim dos sonhos de título de Foreman.
Ele marcou algumas vitórias a mais e perdeu para Tommy Morrison, mas então conseguiu outra chance de título em 1994 contra Moorer, 26, que havia derrotado Holyfield.
Foreman estava perdendo nas pontuações dos juízes quando conseguiu acertar o grande soco que procurava e nocauteou Moorer no 10º round em Las Vegas. Moorer havia lançado 641 socos, contra 369 de Foreman. Mas o último foi o que contou. “Qualquer coisa que você desejar, você pode fazer acontecer”, disse ele após a luta.
Foreman defendeu seu cinturão contra um lutador alemão, Axel Schulz. Mas as entidades governantes que concederam o campeonato começaram a retirar seus cinturões quando ele se recusou a lutar contra os desafiantes que eles mandaram. Em vez disso, Foreman enfrentou e derrotou alguns lutadores de menor expressão. Sua luta final foi uma derrota, uma decisão apertada para Shannon Briggs em 1997. Ele tinha 48 anos.
Ele terminou com um recorde profissional de 76-5.
Foreman voltou ao seu centro juvenil, fez comentários para transmissões de boxe na televisão e, mais lucrativamente, vendeu grelhas de hambúrguer.
Foreman começou a endossar a George Foreman Grill em 1994, com um grande sorriso e frases previsíveis, mas ainda assim encantadoras, como “É um nocaute”. As grelhas eram elétricas e portáteis e podiam ser usadas dentro de casa como uma alternativa ao churrasco a carvão ao ar livre. Foreman ajudou a impulsionar as grelhas a se tornarem um item básico na cozinha americana.
Em 1999, a Salton Inc. pagou 137,5 milhões de dólares (259,5 milhões de dólares em valores atualizados, ou R$ 1,5 bilhão) pelos direitos mundiais de usar o nome de Foreman em grelhas. O ex-lugador recebeu cerca de 75% do pagamento. Ele também endossou silenciadores, frango frito e batatas fritas.
A afabilidade de Foreman o ajudou a transcender o boxe e a cruzar para o mundo da mídia. Em 1993-94, no meio de seu retorno, ele estrelou “George”, uma sitcom de curta duração na ABC em que interpretava um boxeador aposentado ajudando jovens problemáticos, e fez aparições em vários outros programas ao longo dos anos. Ele apareceu em uma fantasia de planta carnívora no programa “The Masked Singer” em 2022 (sua performance de “Get Ready” dos Temptations não foi suficiente para evitar a eliminação).
Foreman nomeou todos os seus cinco filhos de George. Em 2005, ele colaborou com a autora Fran Manushkin em um livro infantil chamado “Let George Do It!” sobre uma casa cheia de Georges, como a sua.
Lê-se: “‘Hoje é o aniversário do Grande George’, diz a mãe aos meninos reunidos. ‘Posso contar com todos vocês para ajudar na festa?’
“‘Pode apostar’, disseram George, George, George e George. ‘Urgle’, disse o bebê George.”
Uma chave para o sucesso empresarial de Foreman em tantas áreas, ele disse, foi fazer aparições pessoais.
“Isso é maior do que qualquer coisa, qualquer endosso, não importa quem você seja”, ele disse. “Eles querem te tocar; eles querem te conhecer.”
“Então”, ele disse, “eles compram você.”
Este artigo apareceu originalmente no The New York Times.