Um dos melhores memes da internet mostra um homem digitando no computador na madrugada quando sua mulher pergunta: “Você vem dormir?”. O homem responde: “Não posso. Isso é importante”. A mulher então pergunta: “O quê?”. E a resposta clássica vem: “Alguém está errado na internet”.
O cartoon (xkcd.com/386) do brilhante Randall Munroe de 2008 ironiza o comportamento obsessivo de pessoas que perdem tempo e energia com outras pessoas online sobre qualquer assunto. Todos nós nos tornamos em alguma medida assim. Vivemos na sociedade do “alguém está errado” o tempo todo, e gastamos uma energia vital enorme com isso.
As consequências são também políticas. Achar que os outros estão “errados” pressupõe achar que você está certo. O resultado todos conhecemos: polarização, atomização, solidão e todo o pacote de deterioração que a sociedade conectada (em que estamos permanente expostos aos “erros” dos outros) trouxe consigo.
Foi nesse contexto que o novo livro da escritora de autoajuda (sim!) Mel Robbins, chamado “Let Them” (“Deixe-os”, ainda inédito no Brasil) virou um sucesso estrondoso.
Robbins tem uma história curiosa. Estudou em uma das melhores universidades dos EUA (Dartmouth), fez direito e chegou a trabalhar como advogada. Mas acabou se tornando comentarista e apresentadora de TV, até virar palestrante motivacional.
Ela descreve a virada da sua vida como sendo o dia em que, paralisada por uma série de problemas pessoais e financeiros (incluindo uma dívida de 800 mil dólares) ela cunhou um novo lema pessoal: “ninguém está vindo para te salvar”. O que resultou no seu primeiro sucesso editorial.
No novo livro, que está no número 1 da lista de best sellers do New York Times e da Amazon, ela propõe um outro conceito simplório, mas interessante: “Sem perceber, damos a outras pessoas poder sobre nossas vidas”.
Sua proposta: “quando você para de querer controlar os outros, você percebe que tem muito mais poder do que pensava”. Então simplesmente “deixe-os” e siga com a sua vida. É o caso do cartoon. Um desconhecido impede alguém de dormir à noite por estar “errado”.
Nas palavras de Robbins: “Outras pessoas não têm nenhum poder sobre você a não ser que você permita que isso aconteça”. A maioria das análises ao livro para por aí.
No entanto, a teoria do Let Them tem um outro lado, que é o chamado “Let Me” (Deixe-me). Essa parte torna a ideia mais interessante. Enquanto você deixa aquilo que você não pode controlar de lado, aja mais do que nunca conforme seus valores, crenças e necessidades. Concentre-se em como você reagiria à mesma situação, mas de acordo com sua bússola pessoal.
É tudo meio poliana. Mas neste mundo exaustivo em que todos querem ter razão e ninguém quer escutar, essa ideia franciscana tocou milhões de pessoas.
Provavelmente poucas delas conhecem o clássico “Deixa Isso Pra Lá”, imortalizado por Jair Rodrigues: “Deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso prá, vem pra cá, o que é que tem?”. Como sempre, a música brasileira, com seu saber de experiência feito, preconizando tudo.
READER
Já era Medicina focada na doença, em vez da saúde
Já é IA chegando forte na área médica
Já vem Desenvolvimento de tratamentos e remédios individualizados para cada pessoa
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