Para quem tem o trânsito da cidade como o pior inimigo e dezenas de milhões de dólares ainda não cabem no orçamento, embarcar num jatinho para viajar entre as metrópoles brasileiras ficou um pouco mais fácil —ao menos virtualmente.
A Microsoft lançou nesta semana uma atualização para seu “Flight Simulator 2024” que leva ao jogo conteúdos relacionados ao Brasil, como pontos turísticos, cidades mais detalhadas e aviões nacionais.
Lançado em novembro, o jogo é o mais ambicioso da franquia de simuladores de voo com mais de 40 anos de história. A versão chamou a atenção pela adição de pessoas, animais e carros nos cenários, a possibilidade de pilotar helicópteros, balões e dirigíveis e atividades que a deixam com mais cara de videogame.
A nova atualização, chamada World Update 19, leva ao jogo 75 pontos de interesse, do Monte Roraima ao Cristo Redentor, quatro cidades detalhadas, sete aeroportos e duas aeronaves brasileiras, o CAP-4 Paulistinha e o jato executivo Praetor 600 da Embraer.
Em parceria com Bing Maps, Maxar e Vexcel, a Microsoft uniu dados geoespaciais recentes do país como fotografias aéreas, imagens de satélite, modelos de relevo e elevação para proporcionar mais verossimilhança em tempo real no simulador.
Isso permitiu que o jogo saísse da geração aleatória de prédios da versão anterior, de 2020, na qual as construções apenas imitavam o que se supunha haver no solo, para colocar construções que de fato existem com base em imagens e scans tridimensionais das cidades.
Esse detalhamento mais preciso agora estará disponível para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Ouro Preto (MG). Em teste realizado pela reportagem na região central da capital paulista, foi possível ver construções como o Copan, o edifício Altino Arantes (Farol Santander) e o Masp em alta fidelidade.
Já os pontos de interesse saltaram de quatro para 75 com a atualização, com reproduções do Teatro Amazonas, Catedral de Brasília, Bioparque Pantanal e Museu do Ipiranga, entre outros.
Quatro aeroportos brasileiros também receberam um tratamento manual na reprodução em 3D, caso dos terminais Santos Dumont (RJ), de Foz do Iguaçu (PR), Fernando de Noronha (PE) e Santarém (PA), além de outros três na Guiana, no Suriname e na Guiana Francesa.
“O tamanho do Brasil não é apreciado de verdade. É um país gigantesco e as cidades são imensas. Sou da Alemanha, moro nos EUA e é isso que esperamos fazer com essas atualizações. Dar às pessoas uma apreciação por todo o nosso planeta”, disse o chefe da franquia, Jorg Neumann, em evento realizado pela Microsoft no Campo de Marte, em São Paulo.
Para os entusiastas de aviação, o destaque fica para a chegada oficial do primeiro modelo da Embraer no jogo ainda neste ano e para a adição do primeiro avião brasileiro na categoria Lendas Locais, voltada para modelos que fizeram história. A promessa é que serão os primeiros de muitos.
“Aviação é muito apaixonante, e muitas vezes existe a oportunidade de levar isso para outras pessoas que não necessariamente estão no mercado. Vimos a parceria como uma chance de atender essa demanda e de expandir a visibilidade da aviação executiva e de outras áreas da Embraer”, disse Felipe Alfaia, diretor de marketing de aviação executiva da Embraer.
Segundo Neumann, a discussão com a fabricante começou há cinco anos, e o escaneamento foi feito há um ano e meio na Flórida.
“Basicamente entramos com scanners por dentro e escaneamos todas as superfícies. E depois, por fora, temos grandes scanners que são usados para sítios arqueológicos, e você passa sobre o avião e tem um detalhamento na escala de milímetros”, disse.
Já a reprodução do CAP-4 Paulistinha foi realizada pela empresa britânica iniBuilds, especializada em simuladores de voo. O avião foi produzido pela Companhia Aeronáutica Paulista na década de 1940, e tem envergadura de 10 metros, alcance de 500 quilômetros e velocidade máxima de 154 km/h. Agora, poderá ser pilotado em qualquer lugar do globo.
Entre as atividades que acompanharam o lançamento do “Flight Simulator 2024”, há um modo de carreira que permite ao jogador se sentir na pele de um piloto, com opções como combate a incêndios florestais, resgate de helicópteros e controle de aviões cargueiros.
No caso da atualização brasileira, há um desafio de pouso de helicóptero no mirante Dona Marta, no Rio de Janeiro.
Já para os chamados turistas digitais, o modo fotógrafo mundial convida o jogador a conhecer diversas partes do mundo. Para o diretor do jogo, as novidades atendem às demandas de todos os tipos de jogador do “Flight Simulator”.
“Os turistas digitais queriam aprender sobre geografia, queriam aprender mais sobre os países. Os gamers queriam competição, corridas, coisas assim. E os simuladores queriam ter uma carreira de companhia aérea”, disse Neumann.
Abraçar todos os níveis de entusiastas é a aposta para um jogo que teve um lançamento problemático, com servidores instáveis nas primeiras semanas. Mas a barra está elevada —em junho do ano passado, a Microsoft revelou que o “Flight Simulator” de 2020 alcançou 15 milhões de jogadores e 1 bilhão de sessões de voo.
“Flight Simulator 2024” está disponível na plataforma Steam (R$ 299) para PC e sem custo adicional no nível Ultimate do serviço Xbox Game Pass (R$ 59,90 ao mês), para PC e consoles.