A plataforma de vídeos Rumble, que trava batalha judicial contra o ministro Alexandre de Moraes, funciona graças a um investimento de US$ 775 milhões (R$ 4,5 bilhões) do bilionário Paolo Ardoino, o CEO da Tether, uma das criptomoedas de maior circulação no mundo.
Em conversa com o CEO da rede social , Chris Pavlovski, durante evento realizado em San Salvador (capital de El Salvador) no mês passado, Ardoino afirmou que entendia o “custo de defender a liberdade de expressão nos dias de hoje”.
Pavlovski define sua empresa como “uma infraestrutura independente imune à cultura do cancelamento”.
A rede social publica, na sua página de relação com investidores, além dos habituais resultados contábeis marcados por seguidos prejuízos, anúncios de processos judiciais.
Um dos exemplos é a ação judicial que a plataforma abriu, ao lado da Truth Social de Donald Trump, contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O pedido de liminar da empresa para anular as decisões do magistrado brasileiro foi negado pela Justiça da Flórida nesta terça-feira (25).
Segundo Ardoino, o investimento feito por meio dos fundos da Tether teve como motivação os valores compartilhados pelas empresas, como o direito fundamental à liberdade de expressão. “O trabalho da plataforma é fundamental, em tempos nos quais parte do status quo da política e da imprensa tradicional se posiciona a favor da censura”.
Do total investido, US$ 250 milhões (R$ 1,4 bilhão) seriam revertidos, de saída, para compensar buracos no orçamento da empresa. Os gastos incluem, além dos investimentos em infraestrutura, multas em aberto com a Justiça brasileira e honorários de advogados, em outros dois frontes na Califórnia e no Texas.
O Rumble também tenta, em conjunto com o X (ex-Twitter) de Elon Musk, reverter na Justiça do Texas um boicote de grandes anunciantes. A empresa afirma que é punida financeiramente sem motivos justos por sua posição política.
A Federação Global de Anunciantes (WFA, na sigla em inglês) afirma que as empresas têm o direito de escolher não anunciar no Rumble, que “se orgulha da sua moderação de conteúdo furada e de medidas de segurança frouxas.”
No último registro contábil da companhia, divulgado em 12 de novembro, a empresa anunciou que o valor recebido dos anunciantes por cada usuário diminuiu de US$ 0,37 para US$ 0,33. Em comparação, a Meta arrecada mais de dez vezes mais com cada usuário (US$ 4,14), segundo balanço do conglomerado.
Como tem nos anunciantes a principal fonte de receita, o Rumble anunciou que seu prejuízo cresceu de US$ 29,2 milhões (R$ 169 milhões) no terceiro trimestre de 2023 para US$ 31,5 milhões (R$ 182 milhões) no mesmo período em 2024.
Além disso, a empresa briga na Justiça com o governo da Califórnia para derrubar uma legislação estadual de moderação de desinformação política. A lei exige que plataformas online produzam relatórios sobre publicações relacionadas a eleições, funcionários públicos e candidatos a cargos que sejam consideradas “materialmente enganosas” e, em seguida, removam ou rotulem o conteúdo.
O Rumble, por outro lado, fica sediado na Flórida, onde existe uma lei de moderação de conteúdo para dificultar a remoção de postagens. Lá, a empresa pode excluir publicações apenas se explicar o motivo para as autoridades locais.
Embora tenha anunciado retorno ao Brasil no último dia 8 e invista em um pedido de nulidade das decisões do STF, o Rumble tem apenas cerca de 1% dos seus acessos provenientes de brasileiros, de acordo com dados do site de monitoramento de audiência Similarweb.
Dos 67 milhões de usuários que acessaram o site ao menos uma vez por mês durante o terceiro trimestre de 2024, 64% tinham origem nos Estados Unidos ou no Canadá, mostra o balanço mais recente da empresa.
Mesmo o canal de Monark, o brasileiro mais popular na plataforma, com 300 mil seguidores, não publica há dez meses. O ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo Bolsonaro têm menos de 10 mil seguidores cada um.
Desde segunda-feira (24), os provedores de internet brasileiros bloquearam o acesso à plataforma sem moderação de conteúdo, seguindo ordem da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Apesar dos números e do contexto desfavorável aos negócios, Ardoino demonstrou otimismo com o futuro do Rumble no painel em El Salvador. “Muitos conservadores e libertários não estão conseguindo investir nas mídias que querem, e o Rumble irá receber esse dinheiro”, afirmou.
Durante o mesmo evento, a Tether, de Ardoino, divulgou o seu primeiro balanço público. A empresa lucrou US$ 12 bilhões (R$ 69 bilhões) em 2024, tendo como principal fonte de receita os juros pagos pelo Tesouro Americano. A criptomoeda USDT usa os títulos para ter lastro e manter seu valor pareado ao dólar.
RAIO-X – RUMBLE
Fundação: 2013
Prejuízo no terceiro trimestre de 2024: US$ 31,5 milhões (R$ 182 milhões)
Valor de mercado: US$ 3,66 bilhões (R$ 21,145 bilhões)
Número de usuários: 67 milhões, sendo cerca de 1% do Brasil
Funcionários: 184
Área de atuação: Tecnologia e streaming
Concorrentes: YouTube